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Por que você não deveria investir em COEs: como evitar conflitos de interesse nas recomendações de investimentos
Você já ouviu falar ou recebeu uma oferta de COEs que parecia “boa demais para ignorar”?
Talvez algo como: proteção do capital, exposição internacional, potencial de ganho elevado, tudo em um único produto. Quando a recomendação vem de alguém de confiança, um assessor, uma corretora, até o gerente do banco, é natural supor que aquele COE é a melhor opção disponível para você.
Mas existe um ponto importante que quase nunca aparece na conversa: o COE pode ser muito mais interessante para quem vende do que para quem investe. E é justamente aí que mora o problema.
Os COEs se popularizaram porque carregam uma narrativa sedutora, mas, por trás da vitrine, são estruturas complexas, pouco transparentes e frequentemente associadas a conflitos de interesse que passam despercebidos pela maior parte dos investidores.
Antes de decidir se esse produto faz sentido para a sua carteira, vale entender como ele funciona, o que está por trás da recomendação e por que tantos investidores percebem tarde demais que compraram algo que não que não era o que esperavam.
Ao longo do texto, mostramos o que observar, quais perguntas fazer e como avaliar alternativas mais alinhadas ao que realmente importa: uma carteira eficiente, transparente e orientada para trazer resultados para você, investidor.
O apelo da engenharia financeira e a falta de transparência
À primeira vista, os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) parecem uma solução interessante: renda fixa + derivativos + uma exposição temática “global”, muitas vezes apresentada como uma forma inovadora de diversificação.
Mas para o investidor, o funcionamento real do produto é pouco visível. Antes mesmo de aprofundar a análise, já surge a dúvida: por que esse COE está sendo recomendado para mim especificamente?
A estrutura costuma ser difícil de interpretar por causa de elementos como:
- Regras específicas que definem se o retorno será pago ou não;
- Cenários extremamente estreitos para o gatilho funcionar;
- Detalhes técnicos de modelagem que não são apresentados de forma clara;
- Custos embutidos que reduzem o retorno potencial.
Essa falta de transparência é intencional, porque o emissor entende toda a engenharia financeira, mas o investidor recebe apenas o resumo comercial. É nesse espaço de opacidade que surgem riscos que não foram mencionados no momento da recomendação.
Custos embutidos: quando o preço não aparece, mas existe
Uma das principais fontes de confusão é a ideia de que o COE “não tem taxa”. Na prática, o custo existe, só não aparece na tela. Ele está dentro da própria estrutura, isso significa que o investidor paga, mas não vê.
Esses custos incluem:
- Remuneração da instituição emissora;
- Comissionamento do distribuidor no momento da venda;
- Margens embutidas nos derivativos usados para montar a estratégia;
- Redução direta no retorno potencial do investidor.
Quando se analisa com cuidado, vemos que parte significativa do resultado que poderia ir para o investidor já está comprometida na origem. Isso explica por que muitos COEs terminam com ganhos baixos ou com perdas relevantes, por terem sido recomendados para pessoas com perfis inadequados para o risco.
Esse ponto é relevante porque, ao contrário de fundos e ETFs, onde as taxas são explícitas, aqui as comissões ficam invisíveis e entender os riscos torna-se mais complexo. Para verificar a possibilidade de redução da taxa de retorno contratada em um COE de renda fixa, por exemplo, é preciso ler com atenção todo o contrato do ativo, ou seja, a decisão do investidor quase sempre é tomada sem ter acesso a todas as informações.
Estruturas com baixa probabilidade de ganho
Outro ponto é que, para que um COE gere retorno relevante, uma sequência específica de eventos precisa acontecer dentro de um intervalo estreito. Isso significa que, mesmo em cenários positivos, o retorno pode ser anulado por detalhes como:
- Volatilidade maior que a prevista;
- Barreiras ultrapassadas antes do prazo;
- Datas de observação desfavoráveis;
- Movimentos de preço fora do intervalo definido;
- Possibilidade de mudanças na taxa prometida para renda fixa.
Os emissores conhecem o comportamento estatístico dos ativos utilizados e constroem a estrutura para que a probabilidade de ganho seja menor do que o marketing sugere. O investidor, por outro lado, enxerga apenas o cenário ideal, que raramente se concretiza.
É por isso que, ao avaliar o histórico de resultados de COEs amplamente distribuídos, vemos resultados que não acompanham o discurso de potencial elevado.
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O retorno histórico dos COEs fica atrás da renda fixa básica
Quando analisamos séries históricas de COEs oferecidos no varejo, é possível ver um padrão: a maioria apresenta desempenho inferior à taxa básica de juros. Apesar da narrativa de acesso global e engenharia avançada, muitos investidores teriam obtido melhores resultados com um título público simples, de risco baixíssimo.
Isso acontece porque o COE, apesar de ter risco relevante, não oferece um retorno proporcional. Uma consequência direta dos custos internos, da probabilidade reduzida de acerto e da limitação estrutural dos gatilhos que levam à uma boa rentabilidade.
Na prática, o investidor assume risco, perde liquidez e aceita condições específicas, mas recebe de volta um retorno modesto, muitas vezes inferior ao que obteria em alternativas mais simples.
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A falsa sensação de proteção do capital
Uma das promessas mais repetidas no marketing dos COEs é a proteção do capital no vencimento. Embora muitos produtos realmente devolvam 100% do valor investido, isso não representa necessariamente segurança.
Ao longo dos anos, a inflação reduz o poder de compra e o recurso deixa de ser investido em outro ativo. Se o investidor recebe de volta apenas o valor nominal após um prazo longo, ele tem uma perda real significativa.
Nesse cenário, o investidor se sente protegido, mas termina com um resultado que, ajustado pela inflação e pelo custo de oportunidade, se traduz em perda significativa. Essa armadilha ocorre porque a “proteção” não leva em conta a preservação do valor real do patrimônio, apenas do valor nominal.
É como emprestar o dinheiro para o emissor do COE e receber vários anos depois sem qualquer rendimento.
- Leia também: Como conquistar a segurança financeira pessoal
A liquidez restrita reduz a flexibilidade da carteira
Outro ponto pouco destacado nas recomendações é que os COEs possuem liquidez limitada. Quem precisa sair antes do vencimento quase sempre enfrenta:
- Deságio expressivo;
- Spreads elevados no mercado secundário;
- Ausência de compradores;
- Impacto direto no retorno final.
Isso reduz a flexibilidade da carteira e a perda de agilidade para atender emergências, ajustar recursos em oportunidades melhores ou mudanças de objetivo.
Em outras palavras, ao comprar um COE, o investidor fica preso ao emissor, ao prazo e à estrutura. Quando o cenário muda, se for favorável ao emissor, o contrato continua, se não for, o contrato pode ser alterado.
Esse é um risco relevante, mas que raramente é explicado no momento da recomendação.
O conflito de interesse nas recomendações de COEs
Os COEs são extremamente vantajosos para quem vende. A remuneração dos bancos, corretoras, gerentes e assessores acontece antes mesmo do desempenho do produto. Eles ganham na origem, o investidor depende de uma cadeia longa de condições externas.
Essa diferença na forma de remuneração cria um conflito de interesse. Muitos COEs são recomendados não porque são boas alternativas de investimento, mas porque geram receita para quem distribui. Esse desalinhamento é uma das razões para os COEs terem se tornado tão populares, mesmo com histórico de performance pouco competitivo.
Entender esse mecanismo ajuda a evitar decisões enviesadas. Sempre que a recomendação é guiada pelo incentivo do distribuidor, a alocação tende a ser desajustada em relação ao perfil e ao objetivo do investidor.
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Alternativas mais eficientes e transparentes
Se o objetivo é acessar mercados globais, melhorar a diversificação ou buscar bons retornos na Renda Fixa, não é necessário recorrer a estruturas complexas como os COEs. Hoje, o mercado oferece alternativas mais diretas, previsíveis e alinhadas ao interesse do investidor, como:
- ETFs globais e temáticos, que oferecem exposição internacional real, com composição pública e custos objetivos;
- Fundos multimercado, que utilizam estratégias diversificadas com regras de gestão claras;
- Títulos públicos, como Tesouro Selic, com liquidez diária e baixíssimo risco;
- Renda fixa bancária (CDBs, LCIs/LCAs) em que você sabe exatamente o risco e o retorno contratados, ou corporativa, através de fundos de investimento, que permite grande diversificação de risco;
- Ações brasileiras e internacionais, que permitem exposição transparente a setores, regiões e empresas específicas;
Esses veículos possuem características claras de liquidez, custos explícitos e modelos de risco compreensíveis. Ao contrário dos COEs, não escondem custos nem dependem de combinações restritas de eventos para gerar retorno.
Além disso, essas alternativas têm, em geral:
- Relação risco-retorno mais clara, baseada em dados e histórico amplamente divulgados;
- Liquidez elevada, permitindo ajustes conforme mudanças de cenário ou de objetivos pessoais;
- Custos mais baixos e transparentes, sem estruturas implícitas ou travas escondidas;
- Previsibilidade regulatória e operacional, com regras que o investidor consegue acompanhar;
- Histórico de performance mais consistente, construído ao longo de ciclos econômicos.
Diante desse conjunto de fatores, colocar parte relevante do patrimônio em um produto com tantas variáveis ocultas, como o COE, é uma das decisões menos eficientes que um investidor pode tomar.
FAQ: Dúvidas frequentes sobre COEs e conflito de interesses
O que são COEs?
Os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) são ativos de investimentos que combinam renda fixa com derivativos para criar estratégias específicas de retorno. Na prática, o investidor compra uma estrutura pronta, com regras de ganho e perda que ele nem sempre consegue enxergar com clareza. Por isso, apesar de parecerem simples e acessíveis, são complexos, com detalhes escondidos na forma como o retorno é calculado.
COEs são sempre ruins?
Não necessariamente. Eventualmente eles podem não ser péssimos ativos, mas raramente são a melhor opção quando comparados a alternativas mais transparentes e com melhor relação risco-retorno.
O que devo analisar antes de investir em COEs?
É preciso entender os gatilhos de retorno, a estrutura de derivativos, os custos embutidos, o prazo, a liquidez e a probabilidade real de ganho. Se isso não estiver claro, é melhor evitar.
Por que as corretoras recomendam tantos COEs?
Porque a remuneração é alta e imediata. A instituição ganha na emissão; o investidor só ganha se vários cenários previstos se concretizarem.
COE com capital protegido é seguro?
Ele protege o valor nominal, não o valor real. Em prazos longos, isso pode significar perda de poder de compra.
Como a Crescento pode ajudar
Os COEs se tornaram populares porque unem narrativa e boa apresentação comercial. Mas, na prática, o produto entrega pouco retorno, previsibilidade e controle ao investidor.
Enquanto isso, quem estrutura e distribui o COE garante a própria remuneração na origem, independentemente do resultado futuro. Esse desalinhamento é o principal motivo pelo qual investidores precisam analisar esse produto com atenção.
In Crescento, a gente valoriza a transparência. Somos uma consultoria independente, sem vínculo com bancos, corretoras ou emissores e, portanto, sem conflito de interesses. Nossa análise é técnica e isenta, sempre considerando os seus objetivos, seu contexto e o que faz sentido para sua vida financeira.
Se você quer construir uma estratégia de investimentos com clareza, transparência e decisões a seu favor, podemos ajudar.
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